terça-feira, 27 de março de 2012

Hércules Florence


O Inventor da Fotografia No Brasil

O autorretrato do inventor

Diploma da Maçonaria
primeiro registro fotográfico oficial de Hércules Florence, de 1832.A fotografia é, sem dúvida, uma das grandes invenções do século XIX que revolucionaram as formas de criar e consumir a arte. A primeira fotografia data de 1826, pelas mão dos francês Joseph Nicéphore Niépce, que cunhou a técnica de heliografia. Contudo, ao longo dos anos, atribuiu-se a criação da mesma pelas mãos de diversos homens em diferentes locais do mundo. A fotografia não é a invenção de um homem só. Em 1835, Louis Jacques Mandé Daguerre, também francês, prosseguiu os experimentos de Niépce, levando-o a descoberta decisiva da primeira imagem fixa pela ação direta da luz. Já na Inglaterra, William Fox Talbot evoluiu ainda mais na descoberta utilizando-se de papéis fotossensíveis com reagentes químicos para produzir uma imagem positiva.Praticamente na mesma época, no Brasil, o francês aqui radicado conhecido como Hércules Florence, desenvolvia técnicas avançadas que o fizeram conseguir resultados superiores à Daguerre. Florence, no entanto, por estar consideravelmente afastado da Europa, só obteve reconhecimento por seu invento criado em 1832 mais de um século e meio depois, em 1976, através de esforços do fotógrafo e historiador brasileiro Boris Kossoy. Através de registros em seu diário em 1834 comprova-se que Hércules Florence foi o primeiro homem a cunhar o termo photographie.Nascido Antoine Hercule Romuald Florence em 1804 em Nice, na França, o inventor veio a fixar residência no Brasil com apenas 20 anos, mais precisamente na cidade de Campinas, no interior de São Paulo. Florence trabalhou por um tempo como caixeiro e logo em seguida foi trabalhar em uma livraria e tipografia, onde pode desenvolver seus talentos natos de desenhista. Por ser um exímio artista desde a infância, ele acabou por juntar-se a uma expedição para o interior do Brasil, inclusive passando pela Amazônia, para ocupar-se dos registros visuais da viagem. A expedição comandada pelo naturalista alemão Georg Heinrich von Langsdorff teve papel decisivo na descoberta da fotografia por Hércules Florence, que de 1825 a 1829 registrou incansavelmente e com grande precisão nos detalhes, a natureza e os habitantes dos então confins do Brasil.Na imagem abaixo é possível perceber tal apreço pela minúcia que eventualmente impulsionou Florence a buscar novas formas de registro, além de colocá-lo, ao lado de Aimé-Adrien Taunay, que o acompanhou na expedição, como pioneiros da geografia e história brasileira.
     



MAIS FLORENCE...


Biografia

Desde pequeno Hércules Florence demonstrou possuir notável talento para o desenho. Ao ler Robson Crusoé, de Daniel Defoe, apaixonou-se pela vida no mar. Em 1820, com apenas 16 anos, tornou-se grumete. Esteve em Mônaco, na Holanda e na Bélgica. Em 1824 chegou ao Brasil a bordo da fragata Maria Thereza, aportando no Rio de Janeiro. A fragata ficou estacionada um mês e seguiu seu trajeto, porém sem o jovem Florence, que se fixaria no Brasil por toda a vida. Obteve emprego, inicialmente, como caixeiro numa casa de roupas, transferindo-se, logo a seguir, para o estabelecimento de outro francês, Pierre Plancher, proprietário de uma livraria e uma tipografia.

A Expedição Langsdorff

Um ano depois, Florence ficou fascinado com a perspectiva de realizar uma viagem pelo interior do Brasil. Sua grande aventura teve início quando foi informado de que um naturalista alemão, o Barão Georg Heinrich von Langsdorff, pretendia empreender uma expedição científica por várias províncias do país, incluindo a Amazônia, e necessitava de um desenhista. Florence conseguiu ser admitido no cargo pelo seu talento artístico e pelos seus conhecimentos de cartografia. Juntamente com Aimé-Adrien Taunay completou a dupla de desenhistas incumbida de realizar a documentação iconográfica ao longo do extenso trajeto da expedição. Deve-se a Florence o relato completo dessa aventura, percorrida ao longo de 13.000 quilômetros entre os anos de 1825 a 1829, assim como a maior parte da documentação iconográfica. Nela se percebe sua preocupação em registrar com rigor científico a natureza e os índios das regiões visitadas. Essa coleção de imagens é de valor inestimável para os estudos antropológicos e etnográficos, conforme é atestado por cientistas brasileiros e estrangeiros.Após seu retorno da expedição, contraiu núpcias com Maria Angélica A. M. Vasconcelos, filha de importante político paulista, fixando residência na pacata vila de São Carlos(Campinas).

Primeiras invenções:

a Zoofonia, a Poligrafia e a Fotografia

Pretendendo publicar um estudo que fizera sobre os sons emitidos pelos animais, produto de suas observações anotadas na selva durante a expedição (o qual intitulou "zoophonie"), deparou com a inexistência de oficinas impressoras na Província de São Paulo. Decidiu então idear seu próprio método de impressão, a Poligraphie, e em 1832, já se encontrava estabelecido comercialmente oferecendo ao público seus escritos e desenhos, além de manter, ao mesmo tempo, uma loja de tecidos. Observando o descolorimento que sofriam os tecidos de indianas expostos à luz do sol e informado pelo jovem boticário (e futuro botânico de nomeada) Joaquim Correia de Melo das propriedades do nitrato de prata, deu início às suas investigações sobre fotografia. Suas primeiras experiências com a câmera obscura datam de janeiro de 1833 e encontram-se registradas no manuscrito Livre d'Annotations et de Premier Matériaux. Mais de 150 anos depois, o exame detalhado desse manuscrito por Boris Kossoy levou-o a comprovar o emprego pioneiro de Florence da palavra "photographie", pelo menos cinco anos antes que o vocábulo fosse utilizado pela primeira vez na Europa.

Outras atividades e invenções

Florence foi ainda pioneiro da imprensa em Campinas ao fundar, em 1836, O Paulista, primeiro jornal do interior da Província de São Paulo. A proliferação em Campinas de bilhetes falsos de banco induziu-o a inventar um novo método de impressão para evitar falsificações, sobre o que publicou um folheto de 14 páginas. Em 1843 a Academia de Ciências e Artes deTurim declarou que o seu invento tinha algo de novo, com propriedades contrabalançadas com defeitos, mas que merecia a proteção do Governo de Sardenha.Em 1847, Florence descreveu o emprego dos "Typo-sílabas", ideia precursora da taquigrafia.Florence enviuvou em 17 de janeiro de 1850, mas quatro anos depois casou-se novamente, desta vez com Carolina Krug, de origem alemã, com a qual teve sete filhos. O casamento ocorreu em 4 de janeiro de 1854. Florence já contava então 50 anos.Em 1860 inventou a "pulvografia", a impressão por meio do pó. Em 1877 foi eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. No fim da sua vida, dedicava-se à agricultura.

Obras

FLORENCE, Antoine Hercule Romuald. Ensaio sobre a impressão das notas de banco por um processo totalmente inimitável, precedido por algumas observações sobre a gravura das mesmas notas, e o modo de se conhecer as que são falsas. Campinas: Tipografia de Costa Silveira, 1841.
FLORENCE, Antoine Hercule Romuald. Zoophonia. Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brasil. Rio de Janeiro: B.L. Garnier, tomo XXXIX, parte segunda, 1876, p. 321-336.
FLORENCE, Antoine Hercule Romuald. Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829 São Paulo: Editora Cultrix, 1977.

Bibliografia
  • BOURROUL, Leão Estevão. Hércules Florence. São Paulo: Tipografia Andrade Mello & Comp., 1900.
  • FONSECA, Dayz Peixoto. O Viajante Hércules Forence: águas, guanás e guaranás. Campinas (SP): Pontes, 2008.
  • KOSSOY, Boris. Hercules Florence - 1833 - a descoberta isolada da fotografia no Brasil (2ª ed.). São Paulo: Duas Cidades, 1980.
  • KOSSOY, Boris. Fotografia e História, São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. ISBN 85-7480-060-0
  • MONTEIRO, Rosana Horio. Descobertas múltiplas – A fotografia no Brasil (1824 – 1833). São Paulo: FAPESP, 2001.
  • Expedição Langsdorff ao Brasil, Iconografia da Academia de Ciências da União Soviética. Rio de Janeiro, Alumbramento, 1988, 3 vols.